sexta-feira, 13 de julho de 2007

Maior abertura ao antigo missal, «convite à reconciliação»

«As portas estão abertas», reflete o cardeal francês Barbarin

LYON, quinta-feira, 12 de julho de 2007 (ZENIT.org).- Sob o título «Um convite à reconciliação», o cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon e primaz das Gálias, propõe uma reflexão sobre o «Motu proprio» de Bento XVI, «Summorum pontificum»: é uma prévia aos leitores da Zenit, cortesia de «France Catolique», onde se publicará em 20 de julho próximo.

O purpurado francês convida à releitura atenta da constituição do Concílio Vaticano II sobre a sagrada liturgia, «Sacrosanctum Concilium», promulgada em 4 de dezembro de 1963.

Dois usos do único rito romano para reforçar a reconciliação dentro da Igreja: foi o objetivo de Bento XVI com a promulgação, em 7 de julho, da Carta Apostólica em forma de «Motu proprio» «Summorum Pontificum», sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma de 1970. O Papa acompanha o documento de uma carta aos bispos de todo o mundo.

O Motu proprio estabelece que o Missal Romano promulgado por Paulo VI (procedendo à reforma litúrgica, em 1970) -- e reeditado duas vezes por João Paulo II -- é e permanece como forma normal ou ordinária da Liturgia Eucarística da Igreja católica de rito latino.

Por sua parte, o Missal Romano promulgado por São Pio V e editado novamente pelo beato João XXIII (em 1962) poderá ser utilizado como forma extraordinária da celebração litúrgica.

Ainda que este Motu Proprio não seja especificamente para os seguidores do arcebispo cismático francês Marcel Lefebvre (que fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X), certamente o documento lhes «abre a porta de par em par para um retorno à plena comunhão» com a Igreja Católica, como expressou recentemente o presidente da Pontifícia Comissão «Ecclesia Dei», o cardeal Darío Castrillón Hoyos, afirmando que, em todo caso, a antiga Missa nunca foi abolida nem proibida.

Superior geral da cismática Fraternidade São Pio X, do Bernard Fellay escreveu uma carta, com ocasião da promulgação do Motu proprio, reconhecendo «o favorável clima estabelecido pelas novas disposições da Santa Sé».

Mas, em sua opinião, «é necessário que o inegável avanço litúrgico operado pelo Motu proprio dê oportunidade -- depois da retirada do decreto de excomunhão -- a discussões teológicas».

Esta é a reflexão do cardeal Barbarin:

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As portas estão abertas

«Para compreender a decisão do Papa, recordemos -- convida o cardeal Barbarin -- o que compartilhou com os cardeais após sua eleição. Quando as portas da Capela Sistina estavam ainda fechadas, Bento XVI explicou a eleição de seu nome. Referindo-se à Bento XV, grande artífice de paz, disse: ‘Em primeiro lugar, queria viver um pontificado de reconciliação e de paz’.»

«Hoje, o Papa pensa que se não fazemos agora um gesto, a divisão com os tradicionalistas se converterá em um cisma irremediável. Confirma, pois, as disposições de João Paulo II ao respeito: ‘se querem permanecer fiéis a Roma, que saibam que as portas estão abertas para eles e que seu apego à liturgia antiga não é um obstáculo’», afirma o primado das Gálias.

Novidade

«A única verdadeira novidade desse «Motu proprio» -- insiste o cardeal Barbarin -- é que a decisão de atender os desejos dos fiéis neste campo depende daqui em diante da autoridade dos párocos. Como fez João Paulo II para os bispos em 1988, Bento XVI convida os párocos a acolher ‘de bom grado as solicitudes de celebrar a missa segundo o rito do Missal romano editado em 1962’.»

A impossível exclusão do Missal romano atual

Mas por outro lado também, acrescenta o arcebispo de Lyon, «o Papa convida os tradicionalistas a reconhecer o valor e a santidade do Missal romano instituído por Paulo VI. Os sacerdotes apegados à liturgia anterior ao Vaticano II, sejam do Bom Pastor, da Fraternidade de São Pedro ou do movimento de Ecône, se sentirão certamente impressionados por esta forte exigência de Bento XVI. Dom Felley mesmo, responsável pela Fraternidade de São Pio X, disse que era impossível ser católico continuando separado de Roma. Será portanto um verdadeiro progresso para a unidade se aceitarem reconhecer ‘o valor e a santidade’ do Missal de Paulo VI, com o qual celebro a missa cada dia desde minha ordenação, e se cessarem também de ‘excluir por princípio a celebração segundo os novos livros’».

O cardeal Barbarin reconstrói também o documento na linha do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia que coroou no ano da Eucaristia querido por João Paulo II, e da Exortação apostólica pós-sinodal de Bento XVI, e na linha da constituição conciliar «Sacrosanctum Concilium»: «Notemos que Bento XVI pede a todos penetrar na dimensão divina e sagrada da Eucaristia. Por minha parte, desejo que todos releiamos atentamente a constituição do Vaticano II sobre a liturgia. Este será o melhor caminho para refazer a unidade, sempre frágil na Igreja».

Lex orandi, lex credendi
O cardeal Barbarin explica o que significa o velho adágio «lex orandi, lex credendi» nestes termos: «Com efeito, a liturgia é uma expressão essencial da fé da Igreja segundo o princípio bem conhecido ‘lex orandi, lex credendi’ (nossa oração expressa nossa fé). A celebração da Eucaristia encerra todo o mistério pascal. Nos superará sempre, porque é por sua vez a alegria da Quinta-Feira Santa (comunhão), o drama da sexta-feira Santa (sacrifício) e o Mistério da Ressurreição no amanhã de Páscoa (presença). Ela resume o essencial de nossa fé».

«Quanto a um eventual juízo sobre o Concílio, não há nem questão nem dúvida possível. Bento XVI escreve, com efeito: ‘O temor de diminuir a autoridade do Concílio Vaticano II e de pôr em dúvida uma de suas decisões essenciais não tem fundamento’», insiste o cardeal Barbarin.

Voltar aos textos do Concílio

«Minha esperança é que este gesto claro do Santo Padre leve os que sejam ainda reticentes a retomar os textos do Concílio, a aceitá-los interiormente na fé e a conformar-se a eles em toda sua vida cristã, e especialmente em seu ministério sacerdotal. Todos nós precisamos voltar a este ensinamento, que eu vejo como a fonte de renovação e de unidade na Igreja», conclui o cardeal Barbarin.

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