quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Paulo VI profetizou riscos do progresso sem ética, recorda Bento XVI

Concerto em Castel Gandolfo pelos 110 anos do nascimento de Paulo VI

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 27 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Paulo VI, hábil condutor da Igreja durante o Concílio Vaticano II, profetizou as contradições de um progresso separado de fundamentos éticos e espirituais, recorda Bento XVI.

Ele o explicou nesta quarta-feira, ao participar do concerto da Orquestra do Festival Pianístico Internacional Arturo Benedetti Michelangeli, de Brescia e Bérgamo, Itália, por ocasião do 110º aniversário do nascimento de Paulo VI, em 26 de setembro de 1897, em Concesio, província de Brescia.

Ao acabar o concerto, o Papa, após saudar os presentes, quis render homenagem ao «espírito de sabedoria evangélica» com o qual o Papa Giovanni Battista Montini «soube guiar a Igreja durante e após o Concílio Vaticano II».

«Advertiu com profética intuição as esperanças e as inquietudes dos homens daquela época; esforçou-se em valorizar suas experiências positivas, procurando iluminá-las com a luz da verdade e do amor de Cristo, o único Redentor da humanidade», acrescentou.

«O amor que alimentava pela humanidade com seus progressos, suas maravilhosas descobertas, as vantagens e as facilidades da ciência e da tecnologia, não o impediu contudo de manifestar também as contradições, os erros e os riscos de um progresso científico e tecnológico, desenganchado de uma sólida referência aos valores éticos e espirituais.»

«Paulo VI foi prudente e valente em guiar a Igreja com um realismo e um otimismo evangélico, alimentados por uma fé indômita.»

«Auspiciou a vinda da ‘civilização do amor’, convencido de que a caridade evangélica é o elemento indispensável para construir uma autêntica fraternidade universal.»

«Só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pode converter o ânimo humano e torná-lo capaz de contribuir para realizar uma sociedade justa e solidária», disse.

«Rogamos – disse antes de despedir-se – que seu exemplo e seus ensinamentos sejam para nós ânimo e estímulo para amar cada vez mais a Cristo e à Igreja, animados por aquela indômita esperança que sustentou o Papa Montini até o término de sua existência.»

O programa do concerto incluiu peças de Antonio Vivaldi, Johann Sebastian Bach e Wolfgang Amadeus Mozart. Como solistas atuaram Marco Rizzi no violino, e Alexander Romanovsky no piano.

Quem dirigiu a orquestra foi Agostino Orizio, 85 anos, aluno do lendário pianista Arturo Benedetti Michelangeli, a quem está dedicado o Festival, e bresciano como Michelangeli e o Papa Montini, com quem esteve unido por laços de amizade.

A Orquestra do Festival Pianístico Arturo Benedetti Michellangeli foi criada em 1963, com o nome de Luthier Gasparo da Salò, por iniciativa de Agostino Orizio, que é ainda seu diretor residente. Em 1964, a Orquestra se converteu em um complexo de câmara oficial do Festival Michelangeli.

O Festival Pianístico Internacional Arturo Benedetti Michelangeli, que visa a conseguir a maior difusão da cultura musical entre o público, é considerado um dos mais importantes festivais mundiais de piano. Desde 1988, pertence à Associação Européenne des Festivals.

O Presente e o Futuro do Protestantismo no Brasil

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Católicos orientais ou latinos: uma só Igreja, explica Papa Ao receber os bispos da Ucrânia


CASTEL GANDOLFO, segunda-feira, 24 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Bento XVI explicou que ainda que entre os católicos se dê o rito latino e os ritos orientais, todos formam uma só Igreja.

Foi a mensagem que ele deixou nesta segunda-feira, ao receber em audiência em Castel Gandolfo, em visita «ad limina apostolorum», os bispos de rito latino da Ucrânia, que estiveram acompanhados também por bispos greco-católicos (de rito oriental, que compartilham tradição com os irmãos ortodoxos).

«Na variedade de seus ritos e das tradições históricas, a única Igreja Católica anuncia e testemunha em todo lugar da terra o mesmo Jesus Cristo, Palavra de salvação para cada homem e para todo homem», explica o Papa em seu discurso.

«Por este motivo, o segredo da eficácia de todo nosso projeto pastoral e apostólico está antes de tudo na fidelidade a Cristo», declarou.

O Papa pediu que se intensificasse a colaboração entre os bispos latinos e os greco-católicos na Ucrânia «pelo bem de todo o povo cristão».

Em particular, ele lhes propôs celebrar «ao menos um encontro que reúna os bispos de rito latino e os de rito greco-católico, para que se dê um adequado acordo entre todos, com o fim de oferecer uma ação pastoral mais harmoniosa e eficaz».

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Católicos chineses pesaram mais que cisma lefebvrista no Motu Proprio sobre o ritual de 1962

SANTIAGO, 2007-09-11 (ACI).- Poucos dias antes da entrada em vigor do Motu Proprio "Summorum Pontificum" do Papa Bento XVI que concede o indulto universal ao ritual aprovado pelo Beato João XXIII em 1962 como "forma extraordinária" de celebrar a liturgia no Rito Latino, o Bispo de São Bernardo (Chile), Dom Juan Ignacio González Errázuriz, assinalou que um dos objetivos mais importantes da iniciativa pontifícia seria a promoção da unidade dos católicos chineses, mais que "pôr fim ao cisma do Arcebispo Lefebvre e seus seguidores".

Em um artigo intitulado "Muito mais que a Missa em Latim", o Prelado explica o "sentido profundo" desta "transcendente" determinação para a vida da Igreja; a dinâmica de "continuidade e mudança" presente nela; os abusos litúrgicos que escureceram o rosto da Igreja"; a necessidade de uma séria revisão por parte dos que propugnam o "criacionismo litúrgico"; e as atitudes a tomar e evitar.

Depois de destacar a plena validez a partir do dia 14 de setembro das duas formas de celebrar a liturgia –a ordinária, a da reforma que surgiu no Vaticano II, e a extraordinária, contida essencialmente no Missal Romano aprovado por João XXIII em 1962–, Dom González Errázuriz esclarece que Bento XVI "não pediu que se voltasse para antigo rito nem tampouco que se celebre a Missa em Latim" e que menos ainda "solicitou ou aconselhou deixar o rito atual para usar os livros antigos".

Explicando a decisão pontifícia, indica que "nunca na história bimilenar da Igreja ocorreu que uma forma mais moderna de celebrar a liturgia deixe a anterior imediatamente fora de uso, por uma espécie de derrogação tácita".

O Bispo de São Bernardo, em seu comentário, despreza as opiniões que sustentam que esta decisão significaria a anulação da reforma promovida pelo último Concílio. Entretanto, afirma também, que "são erradas as (opiniões) que simplesmente expressam que tudo deve seguir igual".

"Continuidade e mudança" e abusos litúrgicos

Em seu escrito, o Bispo sustenta que uma razão de fundo da decisão papal é a de realizar a dinâmica de "continuidade e mudança". Assim, assinala o Prelado que "nem na história da teologia, nem na da mesma Igreja se dão saltos para o nada" explicando, por exemplo, que "um documento papal ou conciliar não contradiz o ensinamento de outro anterior, mas sim as aperfeiçoa ou as ilumina com novos dados e enfoques".

Ao referir-se a "os abusos litúrgicos, um mal que escureceu o rosto da Igreja", o Bispo recorda que na carta enviada a todos os bispos sobre esta decisão, o Santo Padre lamenta as deformações litúrgicas realizadas em nome de uma mal entendida "criatividade".

"O Supremo Pastor descreve em poucos traços um dos mas trágicos processos vividos em muitas comunidades católicas, nas que a liturgia sofreu muito graves alterações e se converteu em um espaço para a representação pessoal do sacerdote, com abusos de todo tipo e faltas –algumas vezes muito gravesà santidade dos sacramentos, ao Jesus Cristo verdadeiramente presente na Eucaristia, etc.".

O objetivo: não lefebvristas, mas sim católicos chineses

Mais adiante, o Prelado põe em dúvida que a decisão do Papa tenha como grande finalidade "pôr fim ao cisma do Arcebispo Lefebvre e seus seguidores".

"É sabido –diz a respeito ao cisma lefebvrista- que este tem umas raízes mais profundas que as só litúrgicas. Por essa razão não é claro que com o decidido em relação ao uso dos antigos livros vá ficar fim a essa dolorosa divisão, que tem elementos teológicos muito mais complexos. O mesmo Papa nos diz isso na Carta aos Bispos que se citou".

Pelo contrário, o Prelado afirma que a recente carta de Bento XVI aos católicos chineses, "é uma pista mais interessante que a anterior para descobrir um dos objetos da determinação pontifícia".

"Todos esses católicos chineses não conhecem outra forma litúrgica que a antiga e certamente a plena adesão a Roma, no caso de muitos fiéis católicos das comunidades não plenamente unidas a Roma, não poderia implicar uma mudança de forma litúrgica".

"Agora", adiciona o Prelado, "muitos poderão voltar para a unidade da fé e poderão fazê-lo sem mudança algum na liturgia".

Depois de recordar que Bento XVI assinala como uma das razões profundas de sua iniciativa o "chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja", Dom González Errázuriz expressa seu desejo de que esta decisão favoreça um profundo exame pessoal, sobre tudo naqueles que caem em um "protagonismo pessoal" e os que "promoveram ou praticou um 'criacionismo litúrgico' que deteriorou gravemente os conteúdos dos mistérios que celebramos na liturgia".

Ao final do documento, o Bispo assinala que ante a liberalização do ritual de 1962 podem caber "duas atitudes reprováveis e uma que é a própria de um católico verdadeiro".

"O primeiro seria tentar que voltemos todos para antigo uso, pensando que nesse caminho se encontrassem as soluções aos problemas da Igreja. O segundo, ignorar o que o Papa nos disse e continuar pelo caminho do 'criacionismo', como se os frutos dessa árvore já não se provaram suficientemente amargos".

"A atitude verdadeira é aderir fortemente ao que nos diz o Papa e viver na liberdade dos filhos de Deus, respeitando plenamente o direito de pessoas, grupos e comunidades a viver de uma ou outra forma a celebração dos grandes mistérios de nossa fé , que é o verdadeiramente importante.

"Esta determinação de Pedro será como uma prova da retidão de intenção, da adesão e o amor que há em nossa Igreja ao Papa. Será também a ocasião propícia para melhorar em nosso serviço sacerdotal ao povo de Deus e, para alguns, o momento para retificar caminhos errados que se tentaram propor como os verdadeiros na praxe litúrgica", conclui o Bispo de São Bernardo.

domingo, 9 de setembro de 2007

LITURGIA. O motu proprio Summorum pontificum

Nova et vetera

Bento XVI assinou e publicou o documento que libera o uso do Missal Romano publicado por João XXIII em 1962. Entrevista com o cardeal Darío Castrillón Hoyos, presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei”: “A primeira avaliação errada é dizer que se trata de um retorno ao passado. Não é isso”

Entrevista com o cardeal Darío Castrillón Hoyos de Gianni Cardinale

Em 7 de julho finalmente foi publicado o motu proprio Summorum pontificum, de Bento XVI, que, na prática, libera o uso do Missal Romano de 1962. O motu proprio, que entrará em vigor em 14 de setembro, estabelece que o Missal Romano promulgado por Paulo VI em 1970 é a expressão ordinária da lex orandi da Igreja Católica de rito latino. Assim, o Missal promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo bem-aventurado João XXIII deve ser considerado uma forma extraordinária. Dessa forma, não se cria uma espécie de divisão na “lei da fé”, já que são “dois usos do único rito romano”. É lícito, portanto, celebrar a missa de acordo com a edição típica do Missal Romano de 1962. Para que isso aconteça, o motu proprio de Bento XVI indica novas regras, que substituem as estabelecidas pelos documentos anteriores, Quattuor abhinc annos, de 1984, e Ecclesia Dei, de 1988, por meio dos quais se concedia o indulto que permitia a celebração da chamada missa tridentina, mas só mediante prévia autorização do bispo local. A partir de 14 de setembro, nenhum pároco ou reitor poderá impedir que em sua igreja seja celebrada a missa de São Pio V, desde que os fiéis que a pedirem contem com um sacerdote disposto a fazê-lo, e que este seja idôneo e não impedido juridicamente. Mas não é só. O motu proprio estabelece também que o pároco possa permitir o uso do ritual mais antigo na administração dos sacramentos do batismo, da confissão, do matrimônio e da unção dos enfermos. Aos ordinários (bispos e superiores religiosos) concede-se também a faculdade de celebrar o sacramento da crisma nesse rito.
O documento é acompanhado de uma carta, endereçada aos bispos do mundo inteiro, na qual, entre outras coisas, Bento XVI frisa que “não há contradição alguma entre as duas edições do Missale Romanum”. E lembra que na “história da liturgia há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura”, sublinhando que o que para as gerações anteriores era santo “não pode de repente ser completamente proibido ou até considerado danoso”.
30Dias pediu ao cardeal Darío Castrillón Hoyos, colombiano, presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei” desde 2000 (e também ex-prefeito da Congregação para o Clero, que dirigiu de 1996 a 2006), que explicasse os conteúdos mais importantes do motu proprio Summorum pontificum.

O cardeal Darío Castrillón Hoyos
Eminência, qual é o sentido desse motu proprio que libera o uso do chamado Missal de São Pio V?
DARÍO CASTRILLÓN HOYOS: Quando, após o Concílio Vaticano II, ocorreram mudanças na liturgia, grupos consistentes de fiéis leigos e também de eclesiásticos se sentiram incomodados, porque tinham uma forte ligação com a liturgia que já vigorava havia séculos. Penso nos sacerdotes que durante cinqüenta anos haviam celebrado a chamada missa de São Pio V e que, de uma hora para outra, viram-se obrigados a celebrar uma outra; penso nos fiéis que estavam acostumados com o velho rito havia gerações; penso ainda nas crianças, como os coroinhas, que de repente ficaram embaraçadas ao servirem à missa com o Novus ordo. Houve um mal-estar em vários níveis. Para alguns, o problema era também de natureza teológica, pois consideravam que o rito antigo expressava o sentido do sacrifício melhor do que o rito que era introduzido. Outros, até por razões culturais, lembravam com saudade o gregoriano e as grandes polifonias, que eram uma riqueza da Igreja latina. Para agravar isso tudo, as pessoas que se sentiam incomodadas atribuíam as mudanças ao Concílio, quando, na realidade, o Concílio por si mesmo não havia nem pedido nem estabelecido os detalhes dessas mudanças. A missa que os padres conciliares celebravam era a missa de São Pio V. O Concílio não havia pedido a criação de um novo rito, mas um uso mais amplo da língua vernácula e uma maior participação dos fiéis.


Concordo, era esse o ar que se respirava há quarenta anos. Mas a geração que manifestou aquele mal-estar não está mais presente. E não é só isso: o clero e o povo também se acostumaram ao Novus ordo, e, na esmagadora maioria dos casos, se sentiram muito bem com ele...
CASTRILLÓN HOYOS: Isso é verdade para a esmagadora maioria, por mais que muitas dessas pessoas nem saibam o que se eliminou com o abandono do rito antigo. Mas nem todas se acostumaram com o novo rito. Curiosamente, nas novas gerações, tanto de clérigos quanto de leigos, parece florescer também um interesse e uma estima pelo rito anterior. E são sacerdotes e simples fiéis que muitas vezes não têm nada a ver com os chamados lefebvrianos. Esses são fatos da vida da Igreja, aos quais os pastores não podem continuar surdos. Foi por isso que Bento XVI, que é um grande teólogo, com uma profunda sensibilidade litúrgica, decidiu promulgar o motu proprio.


Mas já não havia um indulto?
CASTRILLÓN HOYOS: Sim, já havia um indulto, mas João Paulo II mesmo entendeu que o indulto não tinha sido suficiente. Primeiro, porque alguns sacerdotes e bispos relutavam em aplicá-lo. Mas, sobretudo, porque os fiéis que desejam celebrar com o rito antigo não devem ser considerados de segunda categoria. São fiéis aos quais se deve reconhecer o direito de assistir a uma missa que alimentou o povo cristão por séculos, que alimentou a sensibilidade de santos como São Filipe Néri, Dom Bosco, Santa Teresinha do Menino Jesus, o bem-aventurado João XXIII e o próprio servo de Deus João Paulo II, que, como eu já disse, entendeu o problema do indulto e, portanto, já tinha em mente ampliar o uso do Missal de 1962. Devo dizer que, nos encontros com os cardeais e com os chefes dos organismos vaticanos nos quais se discutiu sobre essa medida, as resistências foram realmente mínimas. O papa Bento XVI, que acompanhou o processo desde o início, deu este passo importante que seu grande predecessor já havia imaginado. É uma medida petrina tomada por amor a um grande tesouro litúrgico, como a missa de São Pio V, e também pelo amor de um pastor por um considerável grupo de fiéis.


Mas não faltaram resistências, até de expoentes do episcopado...
CASTRILLÓN HOYOS: Resistências que, na minha opinião, derivam de dois erros. A primeira avaliação errada é dizer que se trata de um retorno ao passado. Não é isso. Mesmo porque nada se tira do Novus ordo, que continua a ser o modo ordinário de celebrar o único rito romano; o que se dá é a liberdade, a quem quiser, de celebrar a missa de São Pio V como forma extraordinária.


Esse é o primeiro erro daqueles que se opuseram ao motu proprio. E o segundo?
CASTRILLÓN HOYOS: Achar que ele diminui o poder episcopal. Isso não é verdade. O Papa não mudou o Código de Direito Canônico. O bispo é o moderador da liturgia em sua diocese. Mas a Sé Apostólica tem a competência de ordenar a liturgia sagrada da Igreja universal. E um bispo deve agir em harmonia com a Sé Apostólica e garantir os direitos de cada fiel, inclusive o direito de participar da missa de São Pio V, como forma extraordinária do rito.

O cardeal Giovanni Battista Montini celebra a santa missa na catedral de Milão, segundo o rito ambrosiano antes da reforma conciliar na solenidade de Corpus Christi, em 13 de junho de 1963

Apesar disso, houve quem afirmasse que, com esse motu proprio, Ratzinger “zomba do Concílio” e “dá uma bofetada” em seus antecessores Paulo VI e João Paulo II...
CASTRILLÓN HOYOS: Bento XVI segue o Concílio, que não aboliu a missa de São Pio V nem pediu que o fizessem. E segue o Concílio, que recomendou ouvir a voz e os desejos legítimos dos fiéis leigos. Quem afirma essas coisas deveria ver as milhares de cartas que chegaram a Roma para pedir a liberdade de assistir a missa a que cada um se sente mais ligado. E o Papa não se contrapõe a seus antecessores, que são amplamente citados tanto no motu proprio quanto na carta que a acompanha. Em alguns casos, o papa Montini concedeu de imediato a possibilidade de celebrar a missa de São Pio V. João Paulo II, como eu já disse, queria preparar um motu proprio semelhante ao que hoje foi publicado.


Chegou-se a temer também que uma pequena minoria de fiéis pudesse impor a missa de São Pio V a toda a paróquia?
CASTRILLÓN HOYOS: Quem disse isso obviamente não leu o motu proprio. É claro que nenhum pároco será obrigado a celebrar a missa de São Pio V. Só que, se um grupo de fiéis, tendo um sacerdote disponível para fazê-lo, pedir que essa missa seja celebrada, o pároco ou o reitor da igreja não poderá se opor. Obviamente, se houver dificuldades, caberá ao bispo fazer que tudo transcorra num clima de respeito e, eu diria, de bom senso, em harmonia com o Pastor universal.


Mas não existe o risco de que, com a introdução de duas formas no rito latino, a ordinária e a extraordinária, possa haver uma confusão litúrgica nas paróquias e nas dioceses?
CASTRILLÓN HOYOS: Se as coisas forem feitas com bom senso, simplesmente, não se correrá esse risco. Além do mais, já há dioceses em que se celebram missas em vários ritos, uma vez que existem comunidades de fiéis latinos, greco-latinos ucranianos ou rutenos, maronitas, melquitas, siro-católicos, caldeus, etc. Penso, por exemplo, em algumas dioceses dos Estados Unidos, como Pittsburgh, que vivem essa legítima variedade litúrgica como uma riqueza, não como uma tragédia. E existem também paróquias que acolhem ritos diferentes do latino, entre outras as de comunidades ortodoxas ou pré-calcedonianas, sem que isso suscite escândalo. Não vejo, portanto, o risco de haver confusões. Contanto, é claro, que tudo se desenvolva com ordem e respeito mútuo.


Há ainda quem considere que esse motu proprio atente contra o caráter unitário do rito, que seria um desejo dos padres conciliares...
CASTRILLÓN HOYOS: Admitindo em primeiro lugar que o rito romano continua a ser único, mesmo podendo ser celebrado de duas formas, tomo a liberdade de recordar que nunca houve um rito único para todos na Igreja latina. Hoje, por exemplo, existem todos os ritos das Igrejas orientais em comunhão com Roma. E mesmo no rito latino existem outros ritos além do romano, como o ambrosiano ou o moçárabe. A própria missa de São Pio V, quando foi aprovada, não anulou todos os ritos anteriores, mas apenas aqueles que não contavam com pelo menos dois séculos de antiguidade...


E a missa de São Pio V? Ela nunca foi abolida no Novus ordo?
CASTRILLÓN HOYOS: O Concílio Vaticano II não a aboliu, nem depois nunca houve nenhuma medida efetiva que estabelecesse sua abolição. Portanto, formalmente, a missa de São Pio V nunca foi abolida. De certa forma, é surpreendente que aqueles que se dizem intérpretes autênticos do Vaticano II dêem a ele uma interpretação, no campo litúrgico, tão restritiva e pouco respeitadora da liberdade dos fiéis, fazendo que esse Concílio, além de tudo, pareça mais coercitivo ainda que o Concílio de Trento.


No motu proprio não se estabelece um número mínimo de fiéis necessários para que se peça a celebração da missa de São Pio V. Mas há algum tempo vazou uma notícia de que se pensava num mínimo de trinta fiéis...
CASTRILLÓN HOYOS: Essa é a prova cabal de como se divulgaram muitas pseudonotícias sobre o motu proprio semeadas por pessoas que nem haviam lido os esboços ou que, por interesses próprias, queriam influenciar sua elaboração. Eu acompanhei todo o processo até a redação final e, que eu me lembre, em nenhum esboço jamais apareceu qualquer limite mínimo de fiéis, nem de trinta, nem de vinte, nem de cem.

O cardeal Ratzinger celebra a santa missa conforme o rito de São Pio V junto ao Seminário da Fraternidade sacerdotal São Pedro, em Wigratzbad, na Bavária, em abril de 1990
Por que se optou por apresentar o texto do motu proprio antecipadamente a alguns eclesiásticos, em 27 de junho?
CASTRILLÓN HOYOS: O Papa não podia chamar todos os bispos do mundo, por isso convocou alguns prelados, por diferentes motivos particularmente interessados na questão, que representassem todos os continentes. Apresentou o texto a eles, dando-lhes a possibilidade de fazerem observações. Todos os participantes puderam falar.


À luz desse encontro, houve alguma variação no texto do motu proprio que havia sido aprontado?
CASTRILLÓN HOYOS: Foram solicitadas e introduzidas pequenas variações lexicais, não mais que isso.

Que perspectivas o motu proprio pode abrir em relação aos lefebvrianos?
CASTRILLÓN HOYOS: Os seguidores de dom Lefebvre sempre pediram que todo sacerdote pudesse celebrar a missa de São Pio V. Hoje, essa faculdade é oficial e formalmente reconhecida. Por outro lado, o Papa frisa que a missa que nós todos oficiamos todos os dias, a do Novus ordo, continua a ser a forma ordinária de celebrar o único rito romano. E, assim, sublinha que não se pode negar nem o valor nem muito menos a validade do Novus ordo. Isso deve ser claro.


O motu proprio aumentará a responsabilidade de “Ecclesia Dei”?
CASTRILLÓN HOYOS: Esta Comissão foi fundada para reunir os leigos e os eclesiásticos que abandonaram o movimento lefebvriano depois das consagrações episcopais ilegítimas. De fato, ela depois trabalhou também por um diálogo com a própria Fraternidade de São Pio X, na perspectiva de uma plena comunhão. Hoje, o motu proprio se dirige a todos os fiéis ligados à missa de São Pio V, e não apenas aos de proveniência, por assim dizer, lefebvriana. E isso obviamente pressupõe para nós um trabalho muito mais amplo.

Fonte: http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=14918


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Por que não é possível dizer «Cristo sim, Igreja não»

Segundo o teólogo Salvador Pie-Ninot em um novo livro

BARCELONA, quinta-feira, 6 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Não se trata de falar da Igreja como «sociedade perfeita». A Igreja é comunhão e é sacramentalidade. Um volume do catedrático espanhol de teologia fundamental, Salvador Pie-Ninot, pergunta-se – e responde – por que não é possível dizer «Cristo sim, a Igreja não».

O novo volume é «Eclesiologia, a sacramentalidade da comunidade cristã» e foi publicado por Edições «Sígueme», em sua coleção de manuais «Lux Mundi».

«Parto da convicção – que deve ser bem entendida – de que o tema da Igreja precisa de um ‘descentramento’ para que possamos concebê-la não tanto como término e objeto da fé, mas como o modo e o âmbito comunitário-sacramental desde onde se professa, se celebra e se testifica a fé cristã, e dessa forma recuperar o poder ‘crer na Igreja’ como um crer eclesialmente», expõe o professor à Zenit.

«Com efeito, como diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC) no ‘Símbolo dos apóstolos’, fazemos profissão de crer que existe uma Igreja santa, e não de crer na Igreja, para não confundir Deus com suas obras» (CIC 750), precisa.

Salvador Pie-Ninot acrescenta que dessa forma fica claro o caráter de «sinal e instrumento» da Igreja, que é o que significa a palavra mais técnica de «sacramento», já que a Igreja está ao serviço e tem seu porquê nestas duas realidades profundas: «a união íntima com Deus –, ou seja, a filiação com Deus para poder invocá-lo como Pai –, e a união de todo o gênero humano – ou seja, a fraternidade em Jesus Cristo, para poder reconhecer todos como verdadeiros irmãos».

«Por isso, é importante reafirmar que o centro da fé é Jesus Cristo, e que seu seio materno é a Igreja, que está a seu serviço como seu ‘sacramento’ ou ‘comunidade sacramental’ da salvação (tendo presente que se marginalizarmos a mãe, mais facilmente podemos ‘marginalizar’ o filho)», observa esse professor da Universidade Pontifícia Gregoriana.

A obra do teólogo catalão inicia com uma introdução às grandes questões que marcaram a compreensão da Igreja desde seus inícios.

«Em seus dois mil anos de história, a Igreja acentuou duas dimensões fundamentais: seu ser ‘comunidade sacramental’ da fé, que foi prioritária no primeiro Milênio até a divisão com as Igrejas Ortodoxas em 1054, e seu ser ‘sociedade organizada’ no mundo, que foi a visão mais elaborada no segundo Milênio eclesial, sintetizada particularmente no Concílio Vaticano I (1870).»

«O Concílio Vaticano II (1962-1965) quis realizar uma síntese de ambas perspectivas», afirma.

O autor oferece uma fundamentação da Igreja baseada em sua «radicação em Cristo» e também se detém nos distintos nomes que a definem como, por exemplo, «Corpo de Cristo» ou «Povo de Deus».

Uma grande parte está dedicada à sacramentalidade (Igreja, sacramento universal da salvação).

Pie-Ninot, que também é professor na Faculdade de Teologia da Catalunha, conta à Zenit que a Igreja é um mistério, um paradoxo: «Sabemos que a Igreja como mistério é ‘santa’, graças aos dons santos da palavra de Deus e dos sacramentos, mas por sua vez, que a Igreja tem pecadores em seu seio e por isso sempre está necessitada de purificação».

«De fato, o ‘mistério’ da Igreja aparece como um ‘paradoxo’ na história humana, dado que o homem é um paradoxo vivo e a própria Encarnação do Verbo é o paradoxo supremo», reconhece este teólogo.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Entrevista com o Prof. Alessandro Lima

Por Wagner Moura













Se a TV e a música “carismatizaram” os católicos, coube à internet e seus artigos apologéticos “tradicionalizá-los”. É assim quando hoje se percebe que a rede mundial de computadores tornou-se rica fonte de sites em defesa da fé católica, com declarada influência do catolicismo mais tradicional.

No Brasil, foi pela internet que, a partir do final da década de 90, os católicos tradicionais, avessos a modernismos, encontraram espaço para a difusão de seus discursos e para a reafirmação da identidade tradicional da Igreja.

A Tradição ganhou prestígio na internet por meio de sites de professores afins com o catolicismo tradicional, de zelo pela missa tridentina (em latim, como se diz comumente), de espírito combativo às heresias protestantes e críticos de uma Conferência de Bispos que optou pelos pobres enquanto os pobres optaram por outras igrejas.

Dentre os sites de difusão da tradição da Igreja pode-se dizer que o Veritatis Splendor, com 5 anos de existência, é uma referência em consultas sobre doutrina e história do catolicismo. Isso foi possível por meio da fusão de cinco sites do gênero, união que resultou no atual site Veritatis Splendor.

Também merece destaque o fato de que parte de seus autores são egressos do protestantismo. É o caso de um dos principais fundadores de Veritatis Splendor, o Prof. Alessandro Lima, convertido ao catolicismo no ano 2000, após mais de uma década de vida no protestantismo.

Recentemente o Prof. Alessandro Lima deu início à missão de elucidar os internautas católicos sobre o Concílio Vaticano II, assunto de interesse renovado após a eleição do Papa Bento XVI. O professor também lançou o livro “O Cânon Bíblico ”, que trata de uma questão fundamental na experiência de conversão dele ao catolicismo.

Essas e outras questões polêmicas, relativas ao catolicismo, especialmente no Brasil, foram temas da seguinte entrevista com o Prof. Alessandro Lima, concedida em Brasília, Distrito Federal, terra natal de um dos apoligistas católicos referência na internet brasileira.

Clique aqui e LEIA a entrevista com o Prof. Alessandro Lima

Fonte: Blog O Possível e o Extraordinário

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Novo volume da Série "Citações Patrísticas" é disponibilizado


Foi lançado hoje o 2º volume da série "Citações Patrísticas" compilado e organizado por Carlos Martins Nabeto.

Este volume, com 108 páginas, é dedicado ao tema "Deus Pai, Filho e Espírito Santo" e conta, como o anterior, com aprovação eclesiástica (Nihil Obstat e Imprimatur).

Em suma, eis a matéria abrangida por este novo e-book:

- Prefácio (prof. Alessandro Ricardo Lima)
- Introdução Geral (Carlos Martins Nabeto)
- Deus:
1) A Santíssima Trindade: existência - unidade das Pessoas divinas - distinção das Pessoas divinas
2) Deus Pai: Deus - monoteísmo - o nome de Deus - Deus é todo-poderoso - Deus é justo, sábio e onisciente - Deus se relaciona com o homem - a graça divina - Deus deve ser amado.
3) Jesus Cristo: seu nome - a encarnação do Verbo - verdadeiramente Deus e homem - filho único de Deus - sua primeira vinda - homem sem pecado - novo Adão - Verbo do Pai - amava perfeitamente sua Mãe - não teve irmãos consaguíneos - morreu verdadeiramente - desceu aos infernos - ressuscitou dos mortos - é redentor do gênero humano - seu sangue é valiosíssimo - sua vontade e conhecimento - todo homem deve confessá-lo - ultrajado por judeus e pagãos.
4) O Espírito Santo: terceira Pessoa da Trindade - ação vivificante - procede do Pai e do Filho.

Como o volume anterior, a obra está sendo lançada em formato de e-book (PDF) e estará disponível GRATUITAMENTE a todos os interessados que manifestarem o desejo de recebê-la por e-mail. Os leitores que ficarem satisfeitos com o conteúdo da obra são estimulados a procederem uma doação, de QUALQUER QUANTIA, visando a atualização e ampliação dos volumes que compõem a série, bem como para colaborar com os projetos do Autor, como a expansão e manutenção do site COCP-Central de Obras do Cristianismo Primitivo (http://cocp.nabeto.ihshost.com), que disponibiliza escritos da Igreja primitiva em sua íntegra.

A série completa, em 6 (seis) volumes, entregará ao leitor mais de 1600 citações patrísticas e estará assim organizada:

- Volume 1: A Palavra de Deus e a Profissão de Fé
- Volume 2: Deus Pai, Filho e Espírito Santo
- Volume 3: Maria, os Santos e os Anjos
- Volume 4: A Igreja de Cristo
- Volume 5: Os Sete Sacramentos e a Criação
- Volume 6: Escatologia e Questões Diversas

A obra é recomendada a todos os que amam a única Igreja de Cristo e/ou se interessam pela Patrística, especialmente sacerdotes, religiosos, seminaristas, catequistas e ministros extraordinários, além de estudantes de Teologia e leigos em geral que queiram conhecer a doutrina cristã tal como foi professada pela Igreja primitiva (e continua sendo pelo Catolicismo!).